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O impacto da IA na arte digital




Com o desenvolvimento da tecnologia, como as inteligências artificiais afetam a maneira como apreciamos, criamos e interagimos com a arte? É com essa pergunta norteadora que damos início ao texto. Manovich considera a arte digital como uma revolução na criação e consumo de arte, introduzindo uma nova linguagem que combina criatividade humana com inteligência artificial. Ele explora essas ideias em O Código dos Números (2001), onde discute como a tecnologia transformou processos técnicos em processos artísticos.


Desde a revolução industrial, tornou-se visível o quanto os avanços tecnológicos impactaram na arte. Ao observar a indústria musical, é notória a influência da tecnologia digital. Ela revolucionou a produção musical, facilitando a criação e manipulação de sons de maneiras antes inimagináveis. "Softwares de edição de áudio, como Pro Tools e Ableton Live, permitiram que músicos e produtores realizassem gravações de alta qualidade em estúdios caseiros, democratizando o acesso à produção musical" (Théberge, Paul, Any Sound You Can Imagine: Making Music/Consuming Technology, 1997). Além disso, a tecnologia produziu mudanças significativas na forma de consumo, distribuição e direitos autorais.


Enquanto por um lado a tecnologia foi de suma importância para o desenvolvimento da arte, por outro, ela levanta questões sobre originalidade, moral e ética. Ao se utilizar de robôs para a criação de arte no sentido mais purista da palavra, perde-se o fator humano. Arthur Danto, renomado filósofo e crítico de arte, argumenta que a arte criada por IA carece de contexto social e humano. Danto defende que a criatividade e a expressão artística são intrinsecamente humanas, enraizadas em experiências pessoais e culturais que as máquinas não podem replicar. Ele destaca que, embora a IA possa gerar imagens visualmente atraentes, estas existem em um "espaço criativo isolado" e não conseguem capturar a profundidade e a intenção que caracterizam a arte humana (Danto, Arthur, After the End of Art, 1997).


Realmente, é um campo dúbio se analisarmos a arte somente pelo seu lado ético-político. "Erros, falhas e perturbações são mais interessantes do que acertos, pois destacam o que gera controvérsia e dirigem a pesquisa para questões de interesse. Eles colocam os objetos como foco de discussão ético-política e podem ajudar a identificar o que devemos, qualitativamente, analisar no campo da IA" (Lemos, André Luiz Martins, Erros, falhas e perturbações digitais em alucinações das IA generativas: Tipologia, premissas e epistemologia da comunicação, 2024, p. 87).


Entretanto, nem tudo deve ser analisado por esse viés. Observemos o "Obvious", um coletivo de artistas franceses que se tornou famoso por vender uma obra de arte gerada por IA, chamada "Portrait of Edmond de Belamy", em um leilão da Christie's. Eles utilizam algoritmos de IA para criar retratos que evocam a arte clássica, alimentando uma rede de Machine Learning com centenas de pinturas clássicas. A escolha estética é motivada por uma questão histórica: esses retratos têm um formato reconhecível e associado à história da arte europeia. A assinatura das obras traz um trecho da operação matemática que a criou, aplicada manualmente em uma fonte cursiva. "O algoritmo criou a imagem, mas há três humanos por trás do algoritmo", explica Gauthier, membro do grupo, em entrevista ao Estadão QR. Na mesma entrevista, ele pontua a expansão da arte para pessoas de todas as idades como uma das motivações do grupo: "Queremos que as pessoas descubram movimentos artísticos de uma maneira nova. Isso abre espaço na arte para um tipo diferente de pessoas, talvez mais jovens, ou ligadas à tecnologia."


Em suma, existem diversas conversas sobre os valores e as intenções por trás da inteligência artificial. Contudo, ao analisar o crescimento desse tipo de tecnologia, é impossível não sentir medo ou receio de perder toda a autonomia por trás da arte. Um dos grandes temas deste assunto é o desenvolvimento da superinteligência, definida como "qualquer intelecto que exceda em muito o desempenho cognitivo dos seres humanos em praticamente todos os domínios de interesse" (Bostrom, Nick, Superintelligence: Paths, Dangers, Strategies, 2014, p. 26). Caso a inteligência chegue a este ponto, poderemos experimentar um efeito de nostalgia ou saudosismo, desqualificando qualquer arte que não tenha influência humana, retrocedendo ao ponto em que estamos hoje.


O debate mundial sobre inteligência artificial leva os mais "mente aberta" a um desfecho comum, onde a grande maioria das profissões precisa se adaptar a esta nova ferramenta. No artigo "Redes Sociotécnicas e Controvérsias na Redação de Notícias por Robôs", Kaufman, Dora, e Santaella, Lucia abordam a questão das novas habilidades necessárias para os jornalistas, que agora precisam entender linguagens de programação e análise de dados para trabalhar com esses novos sistemas. A introdução desses softwares nas redações não elimina o papel dos jornalistas, mas altera significativamente suas funções, tornando essencial o desenvolvimento de novas competências. Na arte, não seria diferente. Os artistas não perderam sua importância por utilizarem esses softwares, mas talvez percam sua humanidade.


 
 
 

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