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Arte, comunicação e tecnologia: Excessos e possibilidades.



“Comunicação: Troca de informações entre dois ou mais indivíduos, com o objetivo de compartilhar conhecimento, sentimentos, ideias entre outros”. Essa é a definição de comunicação que encontramos na internet ao pesquisar. Apesar de não estar errada, o buraco é bem mais profundo, se é que entende. 


Relembrando a história da humanidade, percebemos uma necessidade de comunicação, para a permanência e evolução da espécie. O homem cria os dispositivos no seu processo evolutivo, ao mesmo passo em que os dispositivos criam o homem. O conhecimento não surge do nada, não é inato ao ser humano, vem da interação com o mundo e com outros indivíduos. Tudo é comunicação, estamos em constante transformação, tudo com o que entramos em contato, nos altera de alguma forma, um homem não pode entrar no mesmo rio duas vezes, pois nem o homem, nem o rio serão os mesmos na segunda vez. 


Essa comunicação se dá de diversas formas ao longo do tempo, como por exemplo através de gestos, escrita, fala e arte. Sem essas coisas e sem a evolução desses artifícios, quem sabe onde estaríamos hoje?


Segundo Flusser, um filósofo Checo-brasileiro, a comunicação é um processo artificial, cujo objetivo é nos fazer esquecer da nossa solidão e do final inerente a todo e qualquer ser, a morte. Diz ainda que o homem se comunica por ser “um animal solitário, incapaz de viver na solidão”. Ao voltarmos o olhar para a sociedade contemporânea, conseguimos ver o pensamento do filósofo na prática. 


O que tem o ser humano que não se comunica, além de ignorância e solidão? Sem a comunicação, não há sociedade, não há conhecimento. Um dos artifícios mais importantes para a comunicação humana é com certeza a arte. É impossível imaginar um mundo sem arte. A arte está na essência do homem, enraizada na história da humanidade. O próprio Flusser diz que a idiotia do homem seria a falta de arte. 


“A arte existe porque a vida não basta”. Com uma simples frase, Ferreira Gullar fala o que um livro inteiro talvez não pudesse explicar. A arte e a comunicação andam lado a lado, acompanhando a evolução e a história da humanidade. Seja por meio de um texto, uma dança, um filme, uma fotografia, qualquer forma de arte tem algo a comunicar, externalizar sentimentos, difundir o conhecimento, ideias e ideais, explicar até o inexplicável, colocar no mundo a alma de quem a performa. 


Trazendo a perspectiva para a sociedade atual, a comunicação, a tecnologia e arte estão em toda parte. Com o avanço das tecnologias e o surgimento da internet, a troca de informações, a comunicação, foi ficando cada vez mais abundante e comum. Vivemos numa sociedade onde talvez haja até um excedente comunicacional, onde muita coisa acontece ao mesmo tempo, muitas pessoas falam e falam, sem parar para ouvir, pensar e discutir. 

Pescando novamente o pensamento de Flusser, talvez haja muito discurso e pouco diálogo. Esse trecho automaticamente me faz lembrar de duas músicas, uma do Arnaldo Antunes e Nando Reis chamada “Não vou me adaptar” onde o personagem traz o questionamento “Será que eu falei o que ninguém ouvia? Será que eu escutei o que ninguém dizia” e a outra se chama “Índios” de Legião Urbana com a frase “Fala demais por não ter nada a dizer”. Mais um exemplo da arte traduzindo e refletindo questões da vida. Músicas e artistas que, por sinal, valem muito a pena conferir.


Por outro lado, a evolução tecnológica possibilitou uma comunicação mais abrangente, uma comunicação que alcança novos lugares, que ultrapassa barreiras e fronteiras. Tornou possível o conhecimento sobre outras culturas, outras maneiras de viver. 


Uma das maiores difusoras deste tipo de conhecimento é a nossa querida arte. Temos acesso a produções de todos os lugares do mundo. Filmes e mais filmes retratando diversas culturas e sociedades, diversos artistas difundindo seus trabalhos para além das suas bolhas. Temos várias formas de arte, disponíveis para diversos gostos, com uma facilidade muito maior do que antigamente, muitas vezes, na palma da mão, nos diversos dispositivos e plataformas contemporâneos. Basta o interesse e a curiosidade.


Além de traduzir a alma do homem, na arte também reside o poder da memória e ,com os avanços tecnológicos, pode-se dizer que ganha um aspecto de eternidade. Por meio de pinturas o ser humano já retratava seu dia a dia, seus sentimentos, com a fotografia capturamos momentos, guardamos na memória, através dos filmes e livros vivemos outras vidas, aprendemos sobre outras perspectivas e realidades. Pela arte nos comunicamos e nos conectamos uns com os outros, com os nossos arredores e consigo mesmo.


As plataformas também tem grande papel atualmente como mediadora pra essa comunicação, para uma difusão desses processos artísticos. Mas até que ponto nosso gosto é o nosso gosto? Até que ponto realmente escolhemos como nos comunicar, com quem se relacionar e que tipo de arte consumir e produzir? 


O conhecimento não surge do nada. O homem precisa se comunicar para esquecer sua solidão. O homem é um ser da técnica. A arte existe porque a vida não basta…






 
 
 

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